por Dani Ribas
Vou comentar frases de intelectuais e cientistas das humanidades que, ao meu ver, podem nos ensinar algo sobre mercado musical – ainda que eles não tenham sequer pensado em música quando escreveram essas frases.
Até você se tornar consciente o inconsciente irá dirigir sua vida e você vai chamá-lo de destino.
C. G. Jung, fundador da psicologia analítica
Essa é uma célebre frase do Carl Gustav Jung, psiquiatra e psicoterapeuta suíço que fundou a psicologia analítica. Seu trabalho é referência na psiquiatria, psicologia, literatura e áreas afins.
Consciência para C. G. Jung
Para Jung, quando não somos conscientes de nossas singularidades como indivíduos, é o inconsciente que nos guia. Quanto maior a consciência, mais fortes serão nossas diferenças em relação a outros indivíduos. Nesse processo de diferenciação (ou individualização), todos criamos PERSONAS: personagem ou máscara ilusória que assumimos perante a sociedade, incluindo nossos estilos de vida, visões de mundo e a maneira como nos expressamos.
Marketing, Brand Persona e Público
No marketing musical, o BRAND PERSONA é uma estratégia baseada na criação de personagens com os valores da sua marca pessoal, com o objetivo de aproximar o relacionamento com o seu público.
Para Jung, na vida é comum derrubarmos essa máscara para aprendermos quem somos de verdade no processo de individualização.
Para mim, o problema começa quando você cria sua persona e passa a acreditar que você é essa “máscara” ilusória. Que ela é suficiente pra você conhecer os gostos do seu “cliente” e pra você se relacionar com seu PÚBLICO.
Alternativas ao Brand Persona: 6 reflexões para a construção de Estratégias de Carreira realistas
Marketing e Brand Persona são caminhos para posicionar marcas. Funcionam para o universo das marcas, e PODE funcionar para artistas se algumas coisas forem levadas em consideração:
- A construção das Estratégias de Carreira deve ter acompanhamento profissional adequado. Caso contrário a persona criada pelo artista pode não se sustentar no dia a dia mostrado nas redes sociais, gerando crises de imagem e até cancelamentos. Ou seja, a persona não pode ser apenas uma invenção.
- Artistas não são marcas ou influenciadores antes de serem artistas. Por mais que artistas devam se pensar como marcas, eles não são apenas marcas. Uma de suas dimensões externas é essa marca pessoal. Mas há uma dimensão interna produtora de signos e símbolos que é diferente de uma marca, pois artistas são pensadores da sociedade, independentemente do estilo musical. Primeiro deve-se pensar no projeto artístico com consistência e muita reflexão, e só depois deve-se “embalar o pacote” e se transformar numa marca ou influenciador.
- Antes do processo do Brand Persona o artista deve ser consciente de sua identidade artística. E assim como não somos totalmente conscientes de nossos problemas sem um psicólogo, não somos capazes de perceber todas as nuances dos nossos atributos de identidade artística sem um profissional capacitado em pesquisa qualitativa. Isso é uma ciência, uma área do conhecimento.
- Para conhecer a identidade artística é necessário mergulhar nesse universo com ferramentas adequadas, investigando como os dilemas internos que nos tornam únicos se relacionam aos dilemas do público. Caso contrário, não terão relevância e serão mera expressão individual.
- Para Jung, quanto maior nossa consciência interior, mais fortes serão nossas diferenças em relação a outros indivíduos. E isso se relaciona totalmente a como somos reconhecidos pelo público. Conhecer o público tem a ver com conhecer a si mesmo, conhecer quais elementos individuais foram mobilizados na expressão artística, e quais deles são atributos de identidade reais. Só então é possível pensar estrategicamente em quais desses atributos serão utilizados no diálogo com o público.
- Público não existe em estado puro, e ele não está ali esperando você se divulgar para ficar apaixonado pelo seu trabalho. Público é algo construído a partir do diálogo sobre pontos de interesse mútuo. Artistas com uma base de fãs sólida são aqueles que entenderam quais são os pontos de interesse mútuo, que vão muito além de estilo musical, lifestyle e moods. O
O que fazer para traçar estratégias realistas
Idealmente, o artista deveria trabalhar numa perspectiva reflexiva e criativa antes de tentar se tornar uma marca ou persona. A sociologia e técnicas de pesquisa qualitativa ajudam a identificar os atributos de identidade criativa e os interesses mútuos entre artista e público. Só então se deveria passar para o Branding Persona e marketing digital.
As três coisas (pesquisa de atributos, branding e marketing) são igualmente importantes, mas geralmente só as duas últimas áreas são procuradas por artistas em processo de profissionalização.
Todo marketing musical começa no artístico e na reflexão sobre seu significado coletivo. Sem essa primeira parte crucial – de pesquisa qualitativa de atributos de identidade – o trabalho pode não alcançar os resultados pretendidos e a carreira na música pode ser uma eterna frustração.
Se o artista não conhece a fundo sua identidade artística e não sabe relacioná-la aos interesses do público e do seu nicho de atuação, o branding não pode fazer muito pelo artista. Pois o personagem criado não pára em pé. O branding é o meio, e não o fim.
A minha abordagem “Raio-X do Projeto Artístico”, baseada na sociologia da cultura, sociologia dos públicos e psicologia social, trabalha justamente no melhor entendimento dos atributos de identidade do artista. O método é baseado na minha tese de Doutorado defendida na UNICAMP em 2011 e foi criado para qualificar o trabalho de artistas (que contam com muitas ferramentas na área de marketing e empreendedorismo, mas não contam com metodologias voltadas para o reconhecimento dos símbolos e signos culturais do trabalho artístico). Ele organiza atributos de identidade de artistas, os mobiliza para a relação com o público e interpreta a reação dos fãs aos estímulos. Analisa relação entre a regularidade e a multidimensionalidade do comportamento dos públicos. Fornece instrumentos para analisar a demanda pelo trabalho artístico, que é tão importante quanto o processo criativo em si ou a oferta do produto musical no mercado. Oferece alternativa às ferramentas disponíveis de marketing para artistas, por meio de 12 ferramentas exclusivas.
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