por Dani Ribas
Empresas de tecnologia são mediadores entre consumidores e vendedores. Coletam dados de consumidores para oferecer aos vendedores. Portanto são os árbitros de grandes conjuntos de informações sobre seus usuários.
Spotify e a escuta por máquinas
Spotify é uma dessas empresas. Conhecido como um serviço de streaming de música, ele usa a “escuta por máquina” para transformar música (algo sonoro, emocional) em dados categorizáveis (gêneros, carimbos de data / hora, BPMs, humor, etc).
(Na pesquisa “Números para Artistas” desvendo como essa transformação de som em números acontece).
Dados: o novo petróleo
Mas não é só isso. Embora essa transformação de sons em números ajude os ouvintes a encontrar música, esse tipo de dados também é bastante valioso para outras empresas interessadas no comportamento geral do consumidor. A eles interessa como os usuários ouvem, quando ouvem, o que ouvem e por quê ouvem.
Spotify, dados e marcas
Quanto mais você ouve, mais o serviço de streaming aprende sobre você e seus hábitos que interferem no seu consumo. Veja o que o próprio Spotify diz para vender espaços publicitários aos anunciantes:
“Alcance pessoas enquanto elas fazem streaming do que mais gostam”.Milhões de pessoas ao redor do mundo criam a trilha sonora perfeita para cada momento das suas vidas com o Spotify. Comunique sua mensagem com soluções que só nós podemos oferecer.”
(Fonte: Spotify Ads)
A empresa então vende esse aprendizado para as marcas, para ajudá-las a tomar decisões mais inteligentes sobre seus clientes e para vender melhor os produtos com base em seus interesses.
(Se quiser saber até onde isso chega, veja por exemplo este artigo falando sobre como é possível saber o desempenho da bolsa de valores de acordo com o que as pessoas estão ouvindo no Spotify).
Spotify não vende música, vende publicidade
Nesse sentido, a música que você produz é apenas uma isca para um negócio que vai muito além de sua música. É por isso que as plataformas querem você lançando incessantemente. É uma maneira delas medirem o humor dos consumidores para venderem essa informação aos anunciantes – que também estão lançando seus próprios produtos e precisam fazer marketing de maneira eficiente.
Ou seja, o produto não é sua música. O produto é a subjetividade das pessoas, que está sendo mapeada pelas plataformas que nos colonizam.
O que fazer para mapear público?
Minha opinião é a de que a comunidade da música está gastando muita energia no lugar errado. Para garantir que sua música seja recomendada e ouvida, artistas estão cada vez mais tentando entender como esses algoritmos complexos desvendam o comportamento do público, quando na verdade eles mesmos poderiam fazer isso conversando com o público diretamente.
Claro que algoritmos têm uma capacidade de processamento muito maior e fazem isso com milhões de pessoas ao mesmo tempo. Mas eles não são humanos e são incapazes de compreender os significados daquilo que classificam e transformam em números. Já os humanos, embora não tenham a mesma capacidade de processamento, sabem exatamente o que os sentimentos querem dizer. São capazes de se conectar às emoções que identificam em seu público. Mas infelizmente poucos são os artistas que se dedicam a compreender essas emoções do público, pois é um trabalho contínuo e que não tem resultados imediatos – e por isso artistas têm delegado todo o trabalho para os algoritmos e marketing digital, e depois buscam soluções mágicas que não existem.
Meu trabalho na indústria da música tem sido esse: descolonizar a comunidade da música em relação à dependência dos algoritmos. Meu método ID_MUSIQUE ajuda artistas a entenderem as motivações e emoções do público, para que a música seja desejada pelo público antes mesmo dela existir. Uma relação com o público além do algoritmo.
Deixo aqui uma reflexão: como você mapeia a reação do seu público aos seus lançamentos para usar estrategicamente nos próximos? Como você interpreta sociabilidades, sentimentos e a construção da identidade do seu público?
Posso te ajudar com o método ID_MUSIQUE.