(Texto originalmente publicado na Veja Rio, 08/04/2020)
Por Dani Ribas
Não é novidade que os setores de entretenimento e música ao vivo foram mortalmente abalados pela pandemia causada pelo novo Coronavírus. No DATA SIM coordenei uma pesquisa sobre a crise no setor: 536 empresas ouvidas apontaram adiamento ou cancelamento de mais de 8 mil eventos no Brasil, afetando 8 milhões de pessoas com prejuízo de R$ 483 milhões. A pesquisa já está disponível para download em datasim.info.
A semântica da palavra “crise” remete à ideia de um momento decisivo, de inflexão, de ruptura do equilíbrio, e por isso são oportunidades para reflexões inéditas.
Com tantas lives competindo pela atenção do público nas redes sociais, vai ser difícil artistas se sobressaírem e conquistarem novos públicos. O marketing digital não será suficiente para garantir visualizações e likes na “economia da atenção”.
Será necessário que artistas repensem seu lugar na vida social, e que usem ferramentas interpretativas para repensarem seu trabalho e se reposicionarem no mercado.
Para artistas, a música é o ponto central da sua própria relação individual com a sociedade. E é essa relação, que pode se dar de infinitas formas e estéticas diferentes, que terá de ser repensada para que o artista tenha relevância dentre seus pares.
À exceção dos artistas já consagrados, expressões individuais sem relação com o momento vivido por toda a humanidade não terão força suficiente para conquistar novos públicos. Mas não há formas estéticas pré-definidas. O trabalho do artista é exatamente este: dizer de forma inovadora o que todos gostariam de ouvir mas não conseguem formular.
Eu, como socióloga e profissional, me dedico exatamente a isso: pensar nos elementos que levam artistas a obterem relevância e reputação. Já como público, estou ansiosa para escutar os trabalhos que virão ao longo dessa crise. E eles já começaram a chegar. Eles serão tão necessários quanto álcool em gel. Serão alimentos da alma num mundo sem alma. E sem dúvida, eles serão a luz no fim do túnel.